Lendas de Exu
1:
Exu sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás.
Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe.
Por isso, nas festas que se realizavam no Orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos.
Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação.
Então, eles pediram a Exu, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar.
Assim foi feito, e Exu nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos.
Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia.
As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores.
Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exu que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida.
Exu negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.
Logo apareceu um homem, de nome Ogan.
Exu confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás.
E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.
Seus campos estavam secos e a chuva não caia.
As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores.
Nenhum òrìsà invocado escutou suas queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Èsù grandes pedaços de carne de bode.
Èsù comeu com apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado.
Èsù teve sede.
Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!
Èsù foi á torneira da chuva e abriu-a sem pena.
A chuva caiu.
Ela caiu de dia, ela caiu de noite.
Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar.
Os campos de Aluman tornaram-se verdes.
Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:
"Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes;
Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas!
Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca!
Joro, jara, joro Aluman!"
E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar!
Aluman, reconhecido, ofereceu a Èsù carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta.
Havia chovido bastante.
Mais, seria desastroso!
Pois, em todas as coisa, o demais é inimigo do bom.
3:
Conta-nos uma lenda, que Òsùn queria muito aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, para tanto, foi procurar Èsù, para aprender os princípios de tal dom.
Èsù, muito matreiro, disse a Òsùn que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Òsùn sobre os domínios de Èsù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo.
Em troca, ele a ensinaria.
E, assim foi feito.
Durante sete anos, Òsùn foi aprendendo a arte da adivinhação que Èsù lhe ensinava e consequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èsù.
Findando os sete anos, Òsùn e Èsù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Òsùn resolveu ficar em companhia desse Òrìsà.
Em um belo dia, Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos na margem de um rio e, de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Òsùn.
Foi-se a tal ponto que Sàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia no seu lindo castelo na cidade de Oyó.
Òsùn rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù.
Sàngó então, irado por ter sido contrariado, sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo.
Èsù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo, sua doce pupila de anos de convivência.
Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre.
Lá estava Òsùn, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei.
Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Òsùn fugir dos domínios de Sàngó. Èsù, através da magia, pôde fazer chegar às mãos de sua companheira a tal poção.Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se numa linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Èsù para a sua morada.
Exu, filho primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação e irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi, era voraz e insaciável.
Conseguiu comer todos animais da aldeia em que vivia.
Depois disso, passou a comer as árvores, os pastos, tudo que via até chegar ao mar.
Orunmilá previu então que Exu não pararia e acabaria comendo os homens, e tudo que visse pela frente, chegando mesmo a comer o céu.
Ordenou então a Ogum que contivesse o irmão Exu a qualquer custo.
Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a matar Exu, a fim de preservar a terra criada e os seres humanos.
Mas mesmo depois da morte de Exu, a natureza, os pastos, as árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado e sem vida, doente, morrendo.
Um babalaô (representante de Orunmilá na terra) alertou Orunmilá de que o espírito de Exu sentia fome e desejava ser saciado, ameaçando provocar a discórdia entre os povos como vingança pelo que Orunmilá e Ogum haviam feito. Orunmilá determinou então que em toda e qualquer oferenda que fosse feita pelos homens a um orixá, houvesse uma parte em homenagem a Exu, e que esta parte seria anterior a qualquer outra, para que se mantivesse sempre satisfeito e assim possibilitasse a concórdia
Exu leva aos homens o oráculo de Ifá
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.
Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens ? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a protecção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.
Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direcção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".
Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã.
Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezasseis deuses têm fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezasseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".
Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu GANHAR dos macacos dezasseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezasseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolherás dezesseis odus. Recolherás dezasseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedoria, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".
Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezasseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o If'á.
[Lenda 28 do livro Mitologia dos Orixás]
10:
No começo dos tempos estava tudo em formação, lentamente os modos de vida na Terra forma sendo organizados, mas havia muito a ser feito.
Toda vez que Orunmilá vinha do Orum para ver as coisas do Aiê, era interrogado pelos orixás, humanos e animais, ainda não fora determinado qual o lugar para cada criatura e Orunmilá ocupou-se dessa tarefa.
Exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos ordenadamente, ele sugeriu a Orunmilá que a todo orixá, humano e criatura da floresta fosse apresentada uma questão simples para a qual eles deveriam dar resposta direta, anatureza da resposta individual de cada um determinaria seu destino e seu modo de viver, Orunmilá aceitou a sugestão de Exu.
E assim, de acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam um modo de vida de Orunmilá, uma missão, enquanto isso acontecia, Exu, travesso que era, pensava em como poderia confundir Orunmilá.
Orunmilá perguntou a um homem: "Escolhes viver dentro ou fora?". "Dentro", o homem respondeu, e Orunmilá decretou que doravante todos os humanos viveriam em casas.
De repente, Orunmilá se dirigiu a Exu: "E tu, Exu? Dentro ou fora?". Exu levou um susto ao ser chamado repentinamente, ocupado que estava em pensar sobre como passar a perna em Orunmilá, e rápido respondeu: "Ora! Fora, é claro", mas logo se corrigiu: "Não, pelo contrário, dentro", Orunmilá entendeu que Exu estava querendo criar confusão, falou pois que agiria conforme a primeira resposta de Exu, disse: "Doravante vais viver fora e não dentro de casa".
E assim tem sido desde então, Exu vive a céu aberto, na passagem, ou na trilha, ou nos campos, diferentemente das imagens dos outros orixás, que são mantidas dentro das casas e dos templos, toda vez que os humanos fazem uma imagem de Exu ela é mantida fora.
Lenda tirada do livro
Mitologia dos Orixás
Olodumaré entregou a Oxalá o saco da criação para que ele criasse o mundo. Essa missão, porém, não lhe dava o direito de deixar de cumprir algumas obrigações para outros Orixás e Exu, aos quais ele deveria fazer alguns sacrifícios e oferendas. Oxalá pôs-se a caminho apoiado em um grande cajado, o Paxorô. No momento em que deveria ultrapassar a porta do Orun, encontrou-se com Exu que, descontente porque Oxalá se negara a fazer suas oferendas, resolveu vingar-se, e provocou-lhe uma sede intensa. Oxalá não teve outro recurso senão o de furar a casca de um tronco de um dendezeiro para saciar sua sede.
Era o vinho de palma, também conhecido como emu e oguro, o qual Oxalá bebeu intensamente. Bêbado, não sabia onde estava e caiu adormecido. Apareceu, então, Olófin Odùduà, que, vendo o grande orixá adormecido, roubou-lhe o saco da criação e, em seguida, foi à procura de Olodumaré para mostrar o que achara e contar em que estado Oxalá se encontrava. Olodumaré disse, então, que "se ele está neste estado, vá você a Odùduà, vá você criar o mundo". Odùduà foi, então, em busca da criação e encontrou um universo de água, e aí deixou cair do saco o que estava dentro. Era terra. Formou-se então um montinho que ultrapassou a superfície das águas.
Assentamentos de Oxaguian e Oxalufan no candomblé do Ile Ase Ijino Ilu Orossi
Então ele colocou a galinha cujos pés tinham cinco garras. Ela começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície da água; onde ciscava, cobria a água, e a terra foi alargando cada vez mais, o que em yoruba se diz Ile'nfê, expressão que deu origem ao nome da cidade Ilê-Ifê. Odùduà ali se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e tornou-se, assim, rei da terra. Quando Oxalá acordou, não encontrou mais o saco da criação. Despeitado, procurou Olodumaré, que por sua vez proibiu-o, como castigo a Oxalá e toda sua família, de beber vinho de palma e de usar azeite de dendê. Mas como consolo lhe deu a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos nos quais ele, Olodumaré insuflaria a vida.
Exu instaura o conflito entre Yemanjá, Oyá e Oxum.
Um dia, foram juntas ao mercado Oyá e Oxum, esposas de Xangô, e Yemanjá, esposa de Ogum.
Exu entrou no mercado conduzindo uma cabra.
Ele viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia.
Aproximou-se de Yemanjá, Oyá e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orunmilá.
Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido.
Yemanjá, Oyá e Oxum concordaram e Exu partiu.
A cabra foi vendida por vinte búzios. Yemanjá, Oyá e Oxum puseram os dez búzios de Exu à parte e começaram a dividir os dez búzios que lhes cabiam. Yemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oyá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.
Yemanjá disse: "É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais".
Oxum rejeitou a proposta de Yemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.
Oyá intercedeu, dizendo que , em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio.
As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios equitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oyá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Yemanjá a maior parte.
Pediram a outra pessoa que dividisse equitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Yemanjá e Oyá não concordaram.
Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oyá. Mas Yemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oyá.
Não havia meio de resolver a divisão.
Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: "Onde está minha parte?".
Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo equitativo.
Exu deu três a Yemanjá, três a Oyá e três a Oxum. O décimo búzio ele segurou.
Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra.
Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.
Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser.
Quando qualquer coisa vem para alguém, este deve-se dividi-la com os antepassados. "Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios."
Yemanjá, Oyá e Oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada.
Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.
[Lenda 24 do Livro Mitologia dos Orixás ]
Porque Eshu não deve viver na Casa de Oxalá
Eshu gostava muito de dançar e para ir a uma festa fazia qualquer coisa.
Um dia havia uma festa e ele não podia ir porque não tinha dinheiro.
Fez todos os esforços possíveis até que, como última alternativa, chegou a casa de Oxalá e prometeu limpar-lhe a casa todos os dias se ele o livrasse de um grande apuro que tinha.
Oxalá aceitou e pagou-lhe adiantado, pelo que Eshu pode ir à festa nessa noite.
Esteve muito contente e divertiu-se muitíssimo, estando tão cansado no outro dia que lhe custou fazer o trabalho a Oxalá como tinham combinado.
A limpeza foi feita de má vontade, nesse e em todos os outros dias.
Enquanto isto sucedia, Oxalá ficou doente repentinamente, a tal ponto que teve que consultar Orunmilá. Nesta consulta saiu que na sua casa havia alguém que não era dali e que era necessário que se fosse embora.
Que apenas esse alguém saísse de sua casa, ele melhoraria de saúde, e também lhe foi dito que aquele que estava em sua casa se sentia preso e que essa era a razão da sua enfermidade.
Oxalá recordou-se do rapaz que tinha na sua casa para a limpeza, mas não o despediu de imediato, e, quando houve outra festa na povoação disse-lhe: "Toma este dinheiro e vai à festa.
Já não me deves nada, mas não me abandones e visita-me quando quiseres". Eshu foi-se embora muito contente e desde esse momento Oxalá começou a melhorar e curou-se da doença que tinha.
11:
Exu, sabedor de que uma rainha fora abandonada pelo seu rei (dormindo assim em aposentos separados). Procurou-a, entregou a ela uma faca e disse que se ela desejasse ter ele de volta deveria cortar alguns fios da sua barba ao anoitecer quando o rei dormisse. Em seguida, foi a casa do príncipe herdeiro do trono situada nos arredores do palácio e disse ao príncipe que o rei desejava vê-lo ao anoitecer com seu exército. Em seguida, foi até o rei e disse: a rainha magoada vai tentar matá-lo a noite finja que está dormindo para não morrer. E a noite veio. O rei deitou-se fingiu dormir e viu depois, a rainha aproximar uma faca de sua garganta. Ela queria apenas cortar um fio da barba do rei, mas ele julgou que seria assassinado. O rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra.
O príncipe que chegava com seus guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu para lá. O príncipe entrou nos aposentos e viu o rei com a faca na mão e pensou que ele queria matar a rainha e empunhou sua espada. O rei vendo o príncipe entrar no palácio armado a noite pensou que o príncipe queria matá-lo e gritou por seus guardas pessoais. Houve uma grande luta seguida de um massacre generalizado.
Um dia Oxalufam, velho e curvado por sua idade avançada, resolveu viajar a Oyo em visita a Xangô, seu outro filho. Foi consultar um babalaô para saber acerca da viagem. O adivinho recomendou-lhe não seguir viagem. Ela seria desastrosa e acabaria mal. Mesmo assim, Oxalufam, por teimosia, resolveu não renunciar à sua decisão. O adivinho aconselhou-o, então, a levar consigo três panos brancos, limo-da-costa ou sabão-da-costa, assim como a aceitar e fazer tudo que lhe pedissem no caminho e não reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse. Seria uma forma de não perder a vida.
Em sua caminhada, Oxalufam encontrou Exu três vezes. Três vezes Exu solicitou ajuda ao velho rei para carregar seu fardo, que acabava derrubando em cima de Oxalufam. Três vezes Oxalufam ajudou Exu, carregando seus fardos imundos. E, por três vezes, Exu fez Oxalufam sujar-se de sal, azeite de dendê e carvão. Três vezes suportou calado as armadilhas de Exu. Três vezes foi Oxalufam ao rio mais próximo lavar-se e trocar suas vestes. Finalmente chegou a Oió. Na entrada da cidade, viu um cavalo perdido, que ele reconheceu como o cavalo que havia presenteado a Xangô.
Tentou amansar o animal para amarrá-lo e devolvê-lo ao filho. Mas, neste momento, chegaram alguns súditos do rei à procura do animal perdido. Viram Oxalufam com o cavalo e pensaram tratar-se do ladrão do animal. Maltrataram-no e prenderam-no. Ele, sempre calado, deixou-se levar prisioneiro.
Mas, por estar um inocente no cárcere, em terras do Senhor da Justiça, Oyó viveu por longos sete anos a mais profunda seca. As mulheres tornaram-se estéreis e muitas doenças assolaram o reino. Xangô, desesperado, procurou um babalaô, que consultou Ifá, descobrindo que um velho sofria injustamente como prisioneiro, pagando por um crime que não cometera.
Xangô correu para a prisão. Para seu espanto, o velho prisioneiro era seu pai Oxalufam. Xangô ordenou que trouxessem água do rio para lavar o rei. O rei de Oyó mandou seus súditos vestirem-se de branco, e que todos permanecessem em silêncio, pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalufam. Xangô vestiu-se também de branco e encarregou Airá de carregar o velho rei nas costas. Levou-o para as festas em sua homenagem e todo o povo saudava Oxalá e Xangô. Depois Oxalufam voltou para casa levado por Airá e, quando chegou seu filho, E ofereceu um grande banquete em celebração pelo retorno do pai. Por isso existe o fundamento, águas de Oxalá
Exu era o irmão mais novo de Ogum, Odé e outros orixás.Era tão turbulento criava tanta confusão que um dia o rei já não suportando sua malfazeja índole, resolveu castigá-lo com severidade. Para impedir que fosse aprisionado, os irmãos o aconselharam a deixar o país. Mas enquanto Exu estava no exílio, seus irmãos continuavam a receber festa e louvações. Exu não era mais lembrado, ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Então, usando mil disfarces, Exu visitava seu país, rondando, nos dias de festa, as portas dos velhos santuários.
Mas ninguém o reconhecia assim disfarçado e nenhum alimento lhe era ofertado. Vingou-se ele, semeando sobre o reino toda a sorte de desassossego, desgraça e confusão.Assim o rei decidiu proibir todas as atividades religiosas, até que descobrissem as causas desses males. Então os babalorixás reuniram-se em comitiva e foram consultar um babalaô que residia nas portas da cidade. O babalaô jogou os búzios e Exu foi quem falou no jogo. Disse nos odus que tinha sido esquecido por todos. Que exigia receber sacrifícios antes do demais e que fossem para ele os primeiros cânticos cerimoniais. O babalaô jogou os búzios e disse que oferecessem um bode e sete galos a Exu.
Os babalorixás caçoaram do babalaô, não deram a menor importância às suas recomendações e ficaram por ali sentados, cantando e rindo dele. Quando quiseram levantar-se para ir embora, estavam grudados nas cadeiras. Sim era mais uma das ofensas de Exu!
O babalaô então pôs a mão no ombro de cada um e todos puderam levantar-se livremente. Disse a eles que fizessem como fazia ele próprio: que o primeiro sacrifício fosse para acalmar Exu. Assim convencidos, foi o que fizeram os pais e mães-de-santo, naquele dia e sempre desde então.
Lenda tirada do livro
Mitologia dos Orixás
12:
Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiram, esqueceram-se de fazer-lhes as oferendas devidas. Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.
Exu, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira. Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo, seguindo depois para o canteiro.
Chegando à altura dos dois trabalhadores amigos, muito educadamente os cumprimentou: "Bom trabalho, meus amigos!" Estes, gentilmente, responderam-lhe: "Bom passeio, nobre estrangeiro!"
Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou com seu companheiro:
"Quem poderia ser este personagem de boné branco?"
"Seu chapéu era vermelho", respondeu o homem do campo à esquerda.
"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe!"
"Ele era vermelho, um vermelho escarlate de fulgor insustentável!"
"Ele era branco, trata-me de mentiroso?"
"Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?"
Os dois amigos tinham razão e estavam furiosos da desconfiança do outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram a bater-se, até caírem exaustos no chão.
Exu gargalhava, pois estava vingado!
Isto não teria acontecido, se as oferendas à Exu não houvessem sido negligenciadas, pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás se é tratado com consideração e generosidade.
Uma maneira hábil de obter um favor de Exu é preparar-lhe um golpe mais astuto que aquele que ele mesmo prepara...mas isso já é uma outra história...
Esú torna-se o amigo predilecto de Orunmila
Como se explica a grande amizade entre Orunmila e Exu, visto que eles são opostos em grandes aspectos ?
Orunmila, filho mais velho de Olorun, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exu, pelo contrário, sempre se esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orunmila era calmo e Exu, quente como o fogo.
Mediante o uso de conchas adivinhas, Orunmila revelava aos homens as intenções do supremo deus Olorun e os significados do destino. Orunmila aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exu os emboscava na estrada e fazia incertas todas as coisas. O carácter de Orunmila era o destino, o de Exu, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.
Uma vez, Orunmila viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séqüito não levavam nada, mas Orunmila portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os Obis que usava para ler o futuro.
Mas na comitiva de Orunmila muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orunmila. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola.
Até que Orunmila encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola".
Quando orunmila chegou em casa, reflectiu sobre o incidente e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orunmila esperou.
Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orunmila e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orunmila lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar.
A esposa de Orunmila pareceu compreende-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado.
Outro homem veio chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exu chegou.
Exu também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orunmila não lhe devia nada. Exu disse que não. A esposa de Orunmila persistiu, perguntando se Exu não queria a parafernália de adivinhação
Exu negou outra vez. Aí Orunmila entrou na sala, dizendo: "Exu, tu és sim meu verdadeiro amigo!".
Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exu e Orunmila.
[ lenda 27 do Livro Mitologia dos Orixás]